segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ao Amigo Ausente

"Você tem sorte se na sua vida inteira você encontrar um amigo para toda a vida." Eu tive um. No começo nem parecia que seria o melhor amigo mas com o tempo vi que aquele seria o irmão que eu não tive pois como ele mesmo dizia: "Os amigos são os irmãos que a gente escolhe". Na penultima vez que o vi rolaram aquelas conversas de bêbado, prometendo amizade eterna. Mas detalhe: estavamos sóbrios. Tinhamos ido andar de bike no Ibirapuera, e foi aquilo: prometemos que visitariamos um ao outro quando ficassemos velhinhos, que sairiamos para brincar com nossos netos e levariamos eles no Ibirapuera para andar de bike com a gente. Nesse dia eu andei de bike, ele de patins havia algum tempo que eu não o via e ele estava diferente, distante mas mesmo assim ainda podia enxergar naqueles olhos um pouco do amigo que sempre esteve ao meu lado, do amigo fidélissimo de outrora.
Comecei a lembrar das noites por ai, nas madrugadas frias ou nas de calor, lembrei de quando eu ia na casa dele e ficavamos tomando caipirinha de ipyoca até três da manhã e conversando sobre a vida e tudo que há entre o nascimento e o suspiro final.
Ele me mostrava mais uma de suas poesias bélissimas e colocava um som pra gente ouvir. Lembrei-me do amigo que iria comigo até o inferno, claro se tomasse uma brahma antes e fumasse um cigarro.
Lembro de um dia que nós fomos numa balada que o sindicado a que ele pertencia organizou la em Pinheiros, o som tava péssimo mas eu gostei pois aquele dia beijei a mina mais bonita que eu já beijei até hoje, depois saimos para andar pela madrugada e ele acendeu um baseado e a policia nos parou e eu discuti com o policial por que eu nem fumo maconha e depois disso ele falou que tinha orgulho de ser meu amigo e se sentia bem andando comigo. Eu também me sentia assim.
De tudo o que já fizemos juntos o mais legal era sair por ai pela madruagada, ainda mais quando era pelo centro da cidade. Quando escreviamos uma revista de bairro junto com o pessoal do movimento humanista houve uma festa que acabou tarde e mais uma vez ficamos caminhando pelo centro de madrugada, tempos depois ele me disse que naquela noite ele se apaixonou pelo centro de São Paulo por aquela paisagem bucólica e poética que só o centro da nossa cidade tem.
Depois de muito tempo fiquei sabendo que quando ele se sentia sozinho ia caminhar por lá também assim como eu faço até hoje, me confortando nos rostos desconhecidos que a mim parecem um mar de desconhecidas possibilidades.
Foi no centro da cidade que eu o vi pela última vez, num bar fatidicamente chamado de Central ao lado da estação Anhagabaú, depois desse dia ele preferiu ir para outro lugar fazer uma viagem a qual eu não pude acompanhar.
O filósofo Sêneca em um de seus melhores escritos fala de um amigo "ausente" o seguinte: "Estava tão acostumado a ser dois que agora me sinto pela metade."
O que me deixa triste não é a lembrança e a saudade de tudo o que fizemos e da nossa irmandade impar, o que realmente é dificil é pensar em tudo o que fariamos juntos em tudo o que poderiamos construir pois amigo como aquele é dificil de se encontrar. Hoje nesse mundo superficial e massificado as pessoas estão cada dia mais iguais e os outsiders como eu ficam meio sozinhos e sem rumo.
Quantas músicas novas eu quis mostrar a ele, tantas bandas que eu tenho certeza de que ele iria gostar: Guided By Voices, The Jam, Interpol, Planet Smashers e tantos outros.
Quantas coisas eu queria contar para ele, quantos problemas para dividir, coisas que só a sintonia que eu tinha com este irmão me permitia revelar.
Quantos rolês poderiamos fazer, tomar uma na praça Roosevelt e depois ir assistir alguma peça Andar pela Augusta como tantas vezes nós fizemos!
Mas enfim eu fiquei aqui e sei que um dia nos encontraremos de novo para beber e para conversar. Eu devo continuar eu aqui ele lá tenho certeza que deve estar bem...
Esta camiseta que ele está usando nesta foto foi comprada em Parati no dia que a gente foi para a praia do sono e eu e o Wellington compramos para ele. Ele ainda deve estar por lá, vivendo num paraiso, nadando no mar, vivendo toda a liberdade, tranquilidade e paz. A paz que ele sempre cultivou.

2 comentários:

  1. Cris, vc não imagina como fiquei emocionada em ler esse post...
    Eu tenho essa mesma certeza que você tem. Que ele está bem aonde está, que está feliz e que um dia iremos nos encontrar e continuar essa grande amizade que foi interrompida tão bruscamente... enquanto isso não acontece teremos essas tantas lembranças que nunca irão embora, porque amizades como a desse cara, são eternas.

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  2. Fico feliz que tenha gostado Li e fico feliz que guarde boas lembranças e tenha os mesmos anseios e esperanças que eu em relação a este rapaz.
    Bjo

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