domingo, 22 de fevereiro de 2009

My Bike (Elevado Costa e Silva)

Conversava um dia com um senhor japonês ciclista no Ibirapuera. Lhe disse que aos Domingos eu costumava andar de bike pelo centro da cidade, ele achou uma grande idéia o que para mim é corriqueiro.
Sair daqui do Jabaquara (sim, sou Jabá de Jabaquara, cruzes que bairrista provinciano) e seguir em frente passar pelo Ibirapuera as vezes só, as vezes não. Depende do dia mas acho que prefiro só, exercitar a 'necessaria solidão' sentado à bera do lago, já fiz isso tantas vezes mas nunca me canso, é essencial para qualquer um parar e refletir, isso é meditação. Dostoievski naquele livro "Noites Brancas" descreve tão bem a contemplação.
E as horas passam e as pessoas passam e com elas, pessoas e horas, também passam minhas lamurias.
Dali o pedal me leva pela rua Tutóia e vou me lembrando das vezes que já estive ali em noites de calor e fazendo as mais diversas coisas (por que não paro com esta sub subjetividade?), me lembro de muitos momentos naquela rua com pessoas muito importantes.
Então chego até a Ablio Soares, que é um deleite só, com todas aquelas garotas bonitas que sobem e descem o logradouro, aquela rua é tão linda e habitada pela burguesia. Não gosto muito de burgueses, repudio esse vindo das velhas leituras de Bakunin, Proudhon, etc. Mas tenho certeza que até os pais da matéria hão de concordar comigo: Se tem uma coisa que os burgueses sabem produzir bem são filhas gostosinhas. Não sei bem qual é o motivo das burgesinhas serem tão lindas!!! Acho que é devido a alimentação macrobiótica ou mesmo a falta de preocupação com o que vão comer amanhã (entederam?), fato é que, elas são demais, a despretenção que passam ao caminhar, a tranquilidade que demonstram, sem aquele semblante pesado de nós pobres faz-me querer abrir mão de toda a minha atitude e na próxima existencia, se houver, nascer rico só para ser vizinho ou coléga de classe daquelas fofurinhas.
Enfim, depois de me deslumbrar com tanta beleza transitando sem nem me notar lá estou eu na Avenida ma bunita do mundo!!! Nenhuma Champs Elyseés tem o furor e o charme cosmopolita da Avenida Paulista, quantas pessoas, quantas vidas, quantos mundos diferente, tudo ali num lugar só. As 'Indiezinhas' da Augusta, os 'intelectuaizinhos' do Conjunto Nacional, tudo ali, só querem viver e se divertir pois a cidade é para isso.
Vou então pedalando em direção ao Paraiso, chagando próximo a estação lê-se numa placa de transito as palavras Liberdade/ Paraiso (que bom que fosse sempre assim).
Desço a Vergueiro e lá se vai a Liberdade, dizem queos japas como o do começo da história, vendem heroína ali. Será? Sei lá!!! Qualquer dia preciso averiguar!!!
Patio do colégio, Boa Vista vazia, vazia, nem parece aquele lugar louco passagem dos Yuppies apressados. E assim vai viaduto Santa Efegênia, Paissandú, República e a perna já dura, os óculo escuros embaçados com o vapor do meu suor.
Até que chego ao elevado Costa e Silva (é, não pega bem dizer que fiquei andando em cima do minhocão), é facil saber por que tantos documentários, curtas-metragens, video clips e propagandas foram gravados ali, aos domingos ele é interditado para os carros e se transforma numa grande passarela da vida paulistana. Garotas fazem caminhadas, a galerinha de RTV filma mais um curta, os nossos amigos nordestinos queimam uma carninha, tudo muito lindo, tudo sendo observado e 'refilmado' pelos abitantes que moram as 'margens' desse gigante, que abrem suas janelinhas e vêem a vida passar diante de seus olhos curiosos. Nunca quero sair desta cidade quero morrer aqui.
Acho que o velho decrépto Paulo Roubaluf jamais poderia imaginar que a sua tão polêmica obra poderia transformar-se nesse espelho do que é São Paulo.
Certa vez quando eu passava em frente a uma janelinha de um prédio avistei uma menininha atrás de uma cortina translúcida, ela era tão linda, tinha os olhinhos verdes, parei para observa-la mas ela tímida se escondia atrás da cortina deixando a cena ainda mais lírica. Agora sei por que os artistas usam tanto este lugar como inspiração.
Em cada janelinha muitas vidas, em cada janelinha muitos sonhos, histórias que muitas vezes passam despercebidas na correria do dia a dia e só agora com a calma do feriado dominical são observadas, poesia pura.
Outro dia vi o Dr. Drauzio Varela corendo por aqui, o ator Dan Stulbach também pedala por aqui com seus amigos, alias, foi depois que ouvi ele dizendo que andava pelo centro de bike que eu fiquei com vontade também e comecei a me aventurar.
Sem dúvidas quero morrer nesta cidade linda, o lugar que eu amo e que me faz amar!!!
E o japonês admirou-se e disse:
_ Eu nunca tinha visto por esse ângulo!!!

6 comentários:

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  3. Oi! Aqui quem escreve é Isabel.
    Também adoro São Paulo. É minha verdadeira cidade maravilhosa.
    Não sou daí, mas já estive tantas vezes e gosto tanto que posso dizer que São Paulo faz parte de mim - estranho isso de sentir por algo inanimado e tão cheio de vida.
    Depois de uma longa temporada, voltarei à terra da Garoa, dos filmes e peças inéditas, do Vale do Anhangabaú com seu escritor inspirado por um anjo (vc já viu a escultura do escritor e do anjo?), do Martinelli, do Banespa, dos passeios aos sábados e domingos com o pessoal do TurisMetrô, da Pinacoteca, do Parque da Luz, da loja de fantasias da Porto Geral, do Mercado Público, dos Viadutos do Chá e de Santa Ifigênia, de muita agitação. Estarei aí no princípio de abril para passear, comer coisas gostosas, visitar novos lugares, integrar essa megalópole.
    Bem, assistindo ao filme NÃO POR ACASO, já no final, os personagens de uma das duas histórias, que correm paralelas, pedalam por uma parte de São Paulo que pensei ficar nas imediações da Rebouças. Ledo engano. Conversando com uma pessoa aqui, outra ali, descobri que se tratava do Elevado Costa e Silva, vulgo Minhocão. Fiquei louca! eu já havia visto na tv a pista margeada por prédios e, a despeito das críticas, consegui captar poesia ali. Decidi que indo até São Paulo, certamente, iria ao Minhocão e me fundiria a um lado dessa cidade ainda desconhecido.
    E o onde você entra nessa história? o que tem a ver com tudo isso? bem, eu precisava saber se há quem alugue bicicletas pelo Elevado. Você sabe alguma coisa? se não, poderia se informar?
    Em minhas investigações, soube que na Sé é possível alugar uma bicicleta, seria minha saída para o caso da resposta ser negativa a minha indagação anterior. É tranquilo descer na estação Marechal com a bicicleta e pegar o Elevado? O que você acha de tudo isso?
    Obrigada por dividir aqui suas impressões sobre a São Paulo de duas horas e a 30km/h.
    Abraço.
    Isabel (ics_aguiar@hotmail.com)

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  4. Oi Isabel enviei um e-mail para você.
    Abraço.

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  5. A foto da placa é sua? Cara eu vejo Nietzsche naquela placa. Amei, de qualquer forma eu copiei a foto, ou seja, roubei. Vou escrever um post sobre isso, relacionando São Paulo com a filosofia Nietzschiana. Me envie a resposta. Cenas dos próximos capítulos...
    Abraço!
    Ps.: O texto é lindo e cheio de sensibilidade urbana!

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